domingo, 5 de fevereiro de 2012

Essências:sonhos e frutos e luzes

Clevane Pessoa de Araújo (*)

O mais recente livro de poemas de Andréia Donadon possui um título amplo, que resume o conceito da autora em reunir dos menores em número de versos, aos demais, uma viagem por seu próprio self.Há um constante diálogo com ela mesma. Sem pejo para tratar temas não usuais -qual sua histerectomia- a usar palavras do jargão médico , da mesma forma que trata de flores- rosas negros, cravos,flor de laranjeira,porque o título evoca pomos e todos vêm da flor .Da mesma forma os órgãos femininos são plenos dessas florações .Mas aponta a "falência da flor" e  sem pena,assinala as decreptudes,contesta van Gogh(por que cortou os girassóis, Van Gogh?) e aponta ela mesma para a resposta, auto aplicável: "rebeldia /ou criação divina?"
Mas não se trata de mais um poemário apenas feminino.Há uma universalidade buscada, que atenderá a todos os necessários contatos.A autora é incansável pesquisadora e costumizadora de versos, a recriar o velho no novo, capaz de promover desfiles verbais em passarelas.golpeando, golepando-se, para neopoemagem,neoplumagem, donde asas fortalecem-se para prováveis vôos.
Faz com leveza jogos  de palavras  ("nos cais/e /nos caos de mim mesmo") e subverte intencionalmente afirmativas.
Embora seja da escola aldravista/aldravinista e privilegie, com seus pares, a metonímia, oferece poemas-ensaios bons de analizar a fundo.Leia-se, por exemplo "Ossos, entranhas, fissuras &pedras" e ainda "Sinfonia das Flores". Passíveis de debates e aprofundamentos, vivências e discussões de sutilezas camufladas, além das expostas.Fraturas expostas e microfraturas, emendas e curas, males,sanidades e insanidades próprias do ser-em si e no mundo.Ramalhete completo.
Faz-se , em sua poética desse novo livro, a fusão de Deméter capaz de trazer seca à terra, no luto de sua filha Perséfone raptada por Hades, com esta própria, pois sabe que é necessário deixar voltar a Gaia todas as estações , as messes e não apenas a doença causada pelas perdas.Mãe e filha precisam coexistir para a legria de viver voltar.E então,é permitido que a jovem  retorne periódicamente do mundo subterrâneo oferecer uma esperança de novas colheitas à agônica terra e com ela, voltam "sonhos e  frutos e luzes", essencias para a  alma e  para o corpo .Só assim , o inferno tem de esperar.
Sendo artista visual, há uma orgia de cores e formas, nesse seu novo livro.Ela poderia fazer uma tela para cada um dos poemas.Qual Frida Khalo mostrava pictoricamente seu estado de saúde, suas cirurgias, além de outros motivos de inspiração.
Poematiza a existência, suas perplexidades e lança-se a esgotar temas, mas ela própria deixa portas entreabertas, onde por certo, voltará a passar.É a mesma dinâmica de suas telas aldravistas, onde
O livro tem capa dela própria, a diagramação impecável do poeta Gabriel Bicalho,que também assina o projeto gráfico.Editora Aldrava  Letras e Artes, prefácio do Prof. Dr.José Luiz Foureaux de Souza Júnior, Pós doutor em Literatura Comparada, que leciona na UFOP Literatura Luso Brasileira.

(*) Clevane Pessoa de Araújo Lopes
 Acadêmica da AFEMIL-N.05-Cecília Meireles ; da ALB, N.11, Laís Corrêa de Araújo,; da AILA, Titular cadeira 05-Luiz da Silva Rocha Rafael.

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