domingo, 6 de fevereiro de 2011

Belo Horizonte-Clevane Pessoa

Há algum tempo, Nina Reis do Movimento Cultural aBrace, pediu-me que escrevesse a respeito da capital mineira, para a revista aBrace.

Hoje, cheguei ao arquivo onde estava o texto e reolvi publicá-lo:






Belo Horizonte


Quando João Paulo I veio a Belo Horizonte, nos Anos 80, exclamou, em Português sobre o "Belo Horizonte" da capital mineira. Tempos depois de sua vinda, as rádios ainda faziam ouvir essa exclamação, com sotaque.

A idéia de uma cidade planejada foi encampada por grupos ligados à cafeicultura, das Zonas da Mata e do Sul de Minas que  batiam de frente com os ligados às regiões e ações das mineradoras.

Logo no início do Regime Republicano Brasileiro, a cidade foi criada no espaço conhecido por "Arraial do Curral Del Rei", escolhido pelo presidente Afonso Pena, que hoje empresta o  nome à Avenida central da cidade, que sobre até a cita serra, região mais fria e de onde se divisa os muitos prédios, os aglomerados habitacionais e o horizonte.

No parque das Mangabeiras, ao pé da cita serra, um belo pulmão verde, com flora e fauna típicos, sobe-se num pequeno ônibus até ao mirante, onde se tem a impressão de poder tocar o céu e de onde a capital é admirada por turistas e moradores apaixonados.

Há, no centro da cidade, o Parque Municipal, ao lado do decantado "Palácio das Artes", de onde a vida artístico-literária acontece. Há cinema, teatros, jardins, salas de exposição e todo um complexo que permite o atendimento a gostos variados: da música clássica, óperas à popular, saraus, dramaturgia, lançamentos de livros, enfim, um belíssimo, moderno e funcional point de convergência para os aficionados. Alguns artistas e poetas costumam dizer que lá é sua casa, onde lancham, almoçam, trabalham e se divertem e tomam banho cultural.

A Prefeitura Municipal mantém vários espaços em pólos distintos, em especial bairros mais distantes, clamados "Centros de Cultura", onde um leque de opções se apresenta a comunidades e seus públicos de diversas faixas etárias e de interesses.

Sempre houve forte pressão política e das elites mineiras, para que a cidade planejada para ser a capital do Estado tivesse autonomia político-administrativa.

No planejamento inicial, a cidade seria abraçada por um anel, a Avenida do Contorno, mas o crescimento acelerado fez com que, a capital mineira, cercada de distritos e bairros adjacentes não existentes na planta original, formasse o que hoje é denominada "A Grande BH", mas ainda, porque a cidade não comportou uma zona de industria pesada e então, através de decreto (em 1941, de número 770), criou-se oficialmente a "Cidade Industrial".

No centro da planta original, há a "Praça Sete, que não tem características tradicionais de "pracinha", com flores e verde e sim, é um espaço urbano, circular, para onde convergem o traçado das ruas paralelas e onde cruzam duas grandes e importantes avenidas: a Afonso Pena e a Amazonas. Exatamente no centro, fica um monólito, obra a que o povo denominou "Pirulito". Os esotéricos também acreditam que sobre ela, existe uma cidade paralela, de outra dimensão, espiritual.

Próxima, fica a igreja São José, que faz parte da história de movimentos e reivindicações dos belorizontinos, por exemplo, o grande movimento nos Anos 80, para que mulheres não fossem assassinadas por traição, os cônjuges beneficiados por uma situação chamada "crime em legítima  defesa da honra", livres de cumprir pena. O movimento "Quem Ama Não Mata" logrou êxito.

Na região de Venda Nova, fica um local aprazível, maravilhoso, com árvores seculares e sete nascentes, chamado Lagoa do Nado. Aí funciona um dos Centros de Cultura mencionados. A Lagoa propriamente dita é muito bela, com tartaruguinhas, patos e gansos. Das árvores serradas para a construção de alguns imóveis necessários ao funcionamento de teatro, sala mult-meios, bibliotecas, parte burocrática, etc, o artista   Mestre Tibhau esculpiu cabeças grandes, onde estão situadas miniaturas de favelas, em singular interpretação da interação humana com aglomerados urbanos. Os troncos esculpidos permanecem  enraizados no solo. No espaço funcionam saraus poéticos, apresentações teatrais, dança, mostras de telas, danças ,musicais, pode-se ensaiar, assim quais os malabaristas, os equilibristas, os mestres de fantoches, etc. Um verdadeiro atrativo para os jovens, crianças, idosos.

O bairro da Savassi agrega vários movimentos populares, possui livrarias, restaurantes  e cafés, é local de encontro de poetas e escritores, artistas. Os vivos, os mortos em forma de estátua. Lá foi lançada a mais recente revista literária, a 10 Faces, cuja entrada era uma banana devidamente selada. Dos adolescentes aos idosos, é um ponto público de encontros e ações.

Um dos passeios mais agradáveis é chegar-se à beira da Lagoa da Pampulha, onde existe o Complexo Arquitetônico criado por Niemayer. O famoso arquiteto, depois um dos magos da criação de Brasília, a convite de Juscelino Kubitscheck, à época prefeito em BH, trabalhou em conjunto com o paisagista Burle Max, com os escultores Zamoiski, Ceschiatti e José Pedrosa, além do píntor r muralista Cândido Portinari.

Esse complexo arquitetônico marcou a fase, a nível mundial, da Arquitetura Moderna, porque, principalmente, Niemayer gostava de linhas curvas. Ele afirmou:

"Não me atrai a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual que encontro nas montanhas de meu País, no curso sinuoso de seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher perferida.
De curvas é feito todo o universo. O Universo curvo de Eisntein"...

            A Igreja de São Francisco, baixa e doce qual um bombom, redonda qual um ventre grávido de mulher ou um fértil ventre de montanha, na Minas Gerais tão rica de minérios, pedras  preciosas, criou muita polêmica, em especial para os tradicionais, em busca de torres altas e pé direito altíssimo. Cândido Portinari a decorou com a imagem de um São Francisco sério, perante todas as responsabilidades civis de uma nova capital, painel azul de azulejos – há não muito tempo, a Igreja foi escolhida símbolo da cidade. O fundador da Ordem dos Franciscanos convive  serenamente com a imagem de Iemanjá que emerge das águas  atestando o sincretismo religioso brasileiro – ela representa Nossa Senhora da Conceição, para os católicos, que assim, aceitavam os deuses africanos.

Para a Lagoa da Pampulha conflui  a população para a queima de fogos do reveillon, para a maratona internacional , aos sábados para a Feirinha de artesanato e a criançada para o parque Guanabara, onde   a montanha russa e o carrossel são uma tradição.

No momento, estrela de um novo tempo, é o Boulevard na Praça da Estação, agora um pólo de apresentações artísticas e literárias bem perto da antiga Serraria Souza Pinto, onde acontece a feira do livro, que vai ser Bienal.

Neste  ano de 2007, comemora-se o centenário de Oscar Niemayer, e eu, que em novembro, serei agraciada pelos 50 anos de luta  pela Poesia, com  o Colar  de Mérito da Câmara Municipal de Belo Horizonte, fiquei encantada em saber, ao receber a comunicação, de que o patrono da solenidade será justamente ele. Alegria e honra adicionais, pelo poeta das formas arquitetônicas.


Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Poeta Honoris-Causa pelo Clube Brasileiro de Língua Portuguesa para oito países lusófonos, Representante do aBrace na capital mineira.
Belo Horizonte, MG, novembro de 2007 - Brasil

Formatação:Karina Campos.

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