terça-feira, 21 de setembro de 2010

Voltou?

VOLTOU?

Lenda urbana 

Clevane Pessoa de Araújo Lopes


-Voltou?
Aquele homem agora
empoeirado e suado voltou?
É o mesmo que deixou quem o amava
e a quem um dia amou?
Assim  murmuravam e apontavam
os mantenedores da ordem , na cidade
por onde cedinho, ele passou.

O sábio da urbe, então lhes explicou:
-Caso de coragem absoluta,
voltar atrás,  agora ouvindo o tempo e contando estrelas,
 somando os próprios passos na fuga de outrora,
a reconhecer o ninho antigo
no penhasco dos antigos medos...


Mas na cidade todos o apontavam e contestavam:

-Voltou?
Aquele homem antes arrogante e temerário voltou?

A parteira idosa, que o aparara para dá-lo à luz
por suas mãos pequenas,
apenas falou bem baixinho
para somente ele ouvir,
quando o chamou:

-Louvo-te a humildade ainda,
o discurso ainda não dito que farás
quando te apresentares diante de quem
tanto por ti pranteou.

E quando ele bateu
a aldrava de ferro
na porta carcomida ,
temeu a negativa de ajuda,do perdão esperado
talvez nem merecido
e tremeu.

A mulher de cabelos soltos e finos,
com finas grisalhas mechas
perfumada como era todos os dias,
apenas abriu os braços
e o abraçou.
Todos os dias, esperara,
banhara o corpo com seus óleos olorosos
e com ele sonhara.


Enfim , o retorno.
Seu coração, um sino de cristal
a badalar  feliz, a chamar para sua vida,
a nova velha vida a dois.

Então, ele chorou.
E as lágrimas do homem arrependido,
no chão onde caíam,
deram origem a uma nova floração,
 numa planta então desconhecida.
Gotas de Cristal, seu nome,
e as buscam, a essas flores transparentes,
todas as pessoas desesperadas ou desenganadas
que precisam ser perdoadas.

Dizem que no túmulo desses dois amantes,
florescem qual rocio,
a planta mágica do perdão incondicional.

Mas quem sabe onde foram enterrados?

Há que se buscar:
somente os que retornam e se arrependem
 podem ser de fato perdoados.

Aos outros, perdoa-se até,
 mas ...não se esquece a dor causada...

Beo Horizonte, MG

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